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4. Promova o trabalho de pessoas e comunidades específicas e evitar estereótipos

A ‘selfie’ do outro. Na crença popular, a imagem do “índio” é quase sempre estática e se refere ao passado, à nudez, ao cocar, ao arco e à flecha. Fora desses estereótipos, a pessoa não é mais considerada "índia", ou "pura". Como um criador de imagens indígena, isso às vezes apresenta um dilema: que imagem mostramos ao outro, ou melhor, que imagem o outro está vendo do que queremos mostrar? Nosso 'desejo de imagem' é justamente a desconstrução dessa “imagem indígena”, fazendo dessa imagem a própria continuidade das transformações que nós indígenas somos.

Os povos indígenas não se vestem, agem, pensam ou falam de acordo com as expectativas ocidentais pré-estabelecidas. O mesmo se aplica às florestas, que devem ser representadas em toda a sua diversidade, sem se fixar em regiões gerais como a Floresta Amazônica

Existem muitas florestas diferentes em Abya Yala (um termo indígena que aqui se refere à América Central e partes do continente sul-americano), como a Mata Atlântica, a Caatinga, o Páramo e a Valdiviana, que devem receber tanta atenção quanto a Amazônia.

É importante promover imagens que vão além dos estereótipos negativos, evitando o uso de linguagem e imagens que exacerbem a discriminação.

EN: A Xakriabá man looks over the Cerrado forest in the village of Caatinguinha, Xakriabá Territory, Brazil. ES: Un hombre de Xakriabá mira por encima del bosque del Cerrado en la aldea de Caatinguinha, territorio de Xakriabá, Brasil. PT: Um homem da etnia Xakriabá observa a floresta de Cerrado na Vila Caatinguinha, território Xakriabá, Brasil Um homem da etnia Xakriabá observa a floresta de Cerrado na Vila Caatinguinha, território Xakriabá, Brasil

“Quando é o Dia da Amazônia, as pessoas dizem: “Posso usar uma de suas fotos para falar sobre a Amazônia?” Eu digo: “Mas isso é Cerrado, não é Amazônia”. O povo vê retratado um indígena, pensando que o Brasil é só a Amazônia, mas ele é do Cerrado, não da Amazônia. Isso também é uma espécie de generalização, pensar que só existem povos indígenas na Amazônia.”

Edgar Kanaykõ, Etnofotógrafo e Antropólogo, povo Xakriabá, Brasil

É importante prestar atenção à linguagem e às imagens que você usa, para que possa proteger a dignidade das pessoas e combater preconceitos prejudiciais. Apoie o futuro que os Povos Indígenas estão escolhendo para si, de acordo com suas próprias línguas e seu próprio senso de ancestralidade e destino.

Dê voz a indivíduos, comunidades e florestas específicas, evitando termos ou narrativas como “tribos isoladas”, que são genéricas e sujeitas a estereótipos negativos. Como as práticas tradicionais estão mudando rapidamente, é vital apoiar e refletir visualmente as adaptações culturais e climáticas, que são moldadas pela genuína autodeterminação indígena e resiliência cultural. Isso se aplica não apenas aos Povos Indígenas nos territórios, mas também às comunidades indígenas em áreas agrícolas, zonas industriais e cidades.

“A outra coisa que se percebe do envolvimento de longo prazo com os povos indígenas é a rapidez com que os costumes e as práticas mudam, e que o que parece eterno está, na verdade, sendo constantemente remodelado - isso é autodeterminação.”

Marcus Colchester, Programa Povos da Floresta, 2014

Lilia, líder comunitária do povo Cocama, com seu marido Aldo e sua filha Ainara, viajam pela selva a caminho da balsa que montaram no Lago Tarapoto, na Colômbia, para controlar a exploração da pesca em seu território.

“Quando fazemos as mesmas imagens repetidamente, acabamos criando um estereótipo. Por muitos anos, fotografamos povos tradicionais de maneiras exóticas e as imagens resultantes caberiam perfeitamente em um museu. Essas imagens criam a ilusão de que os povos tradicionais não usam outra coisa senão as tradicionais roupas feitas à mão, que não usam tecnologia, entre outros, contribuindo para um imaginário de “pureza”. A aceitação dessas imagens como a única verdade tem consequências diretas na vida de qualquer outro povo tradicional que não se enquadre no estereótipo. Eles são atacados, sua identidade é questionada e são chamados de invasores por se apropriarem de suas terras e de seus recursos.”

Pablo Albarenga, fotógrafo de documentários e contador de histórias visuais, Uruguai

EN: The members of G.I.A. during a routine traveled by the Amacayacu River, near the community of San Martín, Colombia. ES: Los miembros de G.I.A. durante una rutina recorrida por el río Amacayacu, cerca de la comunidad de San Martín, Colombia. PT: Membros do G.I.A., durante uma patrulha de rotina, às margens do rio Amacayacu, próximo à comunidade de San Martín, na Colômbia.
Lilia, líder comunitária do povo Cocama, e Karina, da Fundação Natütama, alimentam um peixe-boi que encontraram encalhado às margens do rio Amazonas, na Colômbia, enquanto tentavam localizar sua mãe.
Crédito da foto: Pablo Albarenga para Rainforest Defenders

“Nixiwaka Yawanawá, do estado do Acre, no Brasil, protestou do lado de fora da exposição de Nelson em Londres. “Como uma pessoa tribal, me sinto ofendido com o trabalho de Jimmy Nelson, Before They Pass Away. É ultrajante! Não estamos morrendo, mas lutando para sobreviver. A sociedade industrializada está tentando nos destruir em nome do ‘progresso’, mas continuaremos defendendo nossas terras e contribuindo para a proteção do planeta”, disse ele.”

- John Vidal, para o jornal The Guardian (2014)

O trabalho minuciosamente encenado do fotógrafo Jimmy Nelson retrata povos tradicionais exotizados e idealizados, fornecendo um exemplo claro de alteridade e fetichização – uma imagem cenificada do “intocado e puro nobre selvagem”.

Seu trabalho centra sua própria voz e seu próprio papel, aventurando-se em terras distantes para documentar esses povos “antes que morram”. Sua abordagem, proporcionando às pessoas fotografadas pouca agência ou voz, reflete a do “salvador branco”.

Nelson cita como sua inspiração o polêmico fotógrafo do século 19, Edward Curtis, que criou uma extensa coleção de imagens romantizadas de povos nativos americanos, chamando-os de “a raça em extinção”.

EN: Various Jimmy Nelson books ES: Algunos libros de Jimmy Nelson PT: Livros de Jimmy Nelson

“Eles ainda têm essa visão quase salvacionista e religiosa de que os povos indígenas são esquecidos por Deus e coisas assim, mesmo no século 21. Essas visões se perpetuam e servem como ferramentas para que não apenas a mídia continue a usar uma linguagem que racializa, discrimina ou estigmatiza as comunidades indígenas, mas também servem como ferramentas diretamente para a própria sociedade continuar a segregar essas comunidades. Então, é importante mudar as narrativas ... [elas não] vão mudar da noite para o dia ou apenas falando mais baixinho com um indígena, ou comendo sua comida ou lhes contando tudo agora ... Narrativas mudam ouvindo a voz dos próprios povos indígenas. Porque só eles sabem o que é viver ali. Se vamos falar de ética, temos que começar por aí."

Sara Aliaga Ticona, fotojornalista

Para o povo Yuqui, é imperativo e importante proteger seu território de atividades ilegais que podem colocar em risco seus habitantes. Mas, acima de tudo, é importante proteger o seu território de atividades ilegais que podem causar danos irreparáveis ao ecossistema que os rodeia e o qual têm protegido. Crédito da foto: Sara Aliaga Ticona, fotojornalista, Povo Aymara, Bolívia.

“Às vezes, os jornalistas têm ideias pré-concebidas sobre o que queremos ver. Para mim, fundamental é o que eles [Povos Indígenas] realmente são e refleti-los da melhor e mais criativa maneira … Refletir um acontecimento sem distorcê-lo, sem exotizá-lo, sem ampliá-lo, sem sensacionalizá-lo, como geralmente se faz”.

Sara Aliaga Ticona, fotojornalista, povo Aymara, Bolívia

  • Rosa Isategua Guaguasu, 72 anos, percorre uma trilha a caminho do centro médico de Biarecuate. Rosa é uma das pessoas mais velhas da comunidade Yuqui e uma das que mais conhece os costumes identitários da comunidade.
  • Mulheres que sonham com água: Rosa Isategua, 72 anos, dentro do mosquiteiro onde dorme, ao ar livre, enquanto conversa com a irmã Loyda Isategua, que penteia os cabelos; ambas moram no território biarecuate.
EN: "Existential Reflection". Portrait of Yanelis Cunampio, member of an Embera traditional dance group ES: “Reflejo existencial”. Retrato de Yanelis Cunampio, miembro de un grupo Embera de danza tradicional PT: "Reflexo Existencial". Retrato de Yanelis Cunampio, membro de um grupo Embera de dança tradicional

“As imagens continuam afetando negativamente as comunidades e, portanto, as florestas. As imagens nos representam como: marginalizadas, pobres, ignorantes, vulneráveis, ou vão ao extremo de nos representar idealizadas como protetoras místicas e ferozes da Mãe Terra - e é claro que a grande maioria da sociedade, inclusive povos indígenas, assume que esta é a condição dos Povos Indígenas [em geral]. O que desencadeia uma série de eventos que não favorecem o meio ambiente ou a sociedade.”

Mara Bi, fotógrafa, povo Embera, Panamá

EN: "I am Embera." Painting with body paint made with the jagua fruit. ES: “Soy Embera”. Pintando con pintura corporal elaborada con la fruta de jagua. PT: “Sou Embera”. Pintar com pintura corporal feita com a fruta jagua.

O fotógrafo Jeison Riascos fundou a plataforma Talento Chocoano em 2010. “Chamo isso de capacitar e tornar visível, mostrando o conteúdo positivo da região. Esse tipo de conteúdo não era publicado e, quando falavam do Chocó, falavam apenas em roubar ou matar ou estuprar. Nunca falavam nada de bom. Por isso foi criada essa plataforma, que permitia [ao chocó] ter voz no país e no mundo”.

 

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“Sempre considero de que maneira o que eu publico vai afetar a saúde mental das pessoas. Procuro o personagem ou a história para permitir que a pessoa, ao ver ou ler, ela se sinta vista.”

Jeison Riascos, fotógrafo

 

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