1. Priorize a segurança e o bem-estar dos povos indígenas
Honrar as pessoas que lutam por justiça fundiária e climática é vital, mas o anonimato de pessoas e lugares pode ser necessário nos casos em que a divulgação pública gera riscos para vidas humanas, fauna carismática e florestas. A coleta de evidências e a denúncia de irregularidades e violações dos direitos humanos e da natureza são responsabilidades fundamentais dos profissionais da mídia.
Também é importante aumentar a conscientização sobre a história colonial e as violações dos direitos humanos cometidas no passado contra mulheres, afrodescendentes e grupos étnicos minoritários nas Américas Indígenas (Abya Yala). O termo Abya Yala pode se referir às Américas como um todo, mas é mais comumente usado pelos povos indígenas na América Latina como um termo pré-colonial para referir-se a seu continente.
Os Povos Indígenas continuam enfrentando vitimização, violência física e ameaça à vida por causa de seus esforços para reivindicar e defender as florestas dentro dos Territórios Indígenas. O abuso dos direitos humanos continua sendo um grande problema na América Central e do Sul, onde o meio ambiente e a luta pelos direitos à terra podem estar ligados à instabilidade política, desigualdade social, insegurança, narcotráfico, desigualdade de gênero e violência patrocinada contra ativistas ambientais.
“Sabemos que os povos indígenas estão em um contexto de violência e criminalização ... Por isso, é importante ter uma comunicação clara e compartilhar com eles os objetivos que perseguimos com nosso trabalho, e verificar se esses objetivos são de alguma forma compartilhados por eles. No que se refere à presença online, muitas vezes as pessoas subestimam a relação que as comunidades têm com a internet. Muitas delas têm contas nas redes sociais, publicam constantemente e estão cientes do que implica ter uma presença online. No entanto, no decorrer do trabalho, é importante ter uma comunicação constante com elas para evitar que corram riscos com o que falamos, fotografamos ou gravamos, porque são elas que sabem muito mais sobre os riscos que cada publicação pode representar, porque estão no campo o tempo todo."
Pablo Albarenga, fotógrafo de documentários e contador de histórias visuais, Uruguai
"Precisamos acabar com o jornalismo de paraquedas. Tais jornalistas se interessam por notícias de última hora, quando alguma coisa ruim acontece, e chegam a uma comunidade sem pesquisa ou conexão anterior, desesperados por imagens de tabloide de partir o coração, geralmente exóticas ou violentas. E, em muitos casos, a dignidade das pessoas é deixada de lado, assim como a sua segurança ... Às vezes, jornalistas ignoram isso porque a própria publicação tem certas normas, que são arcaicas e não põem em primeiro plano essas relações.”
Pablo Albarenga, fotógrafo de documentários e contador de histórias visuais, Uruguai
A ética e a solidariedade devem orientar e formar a base de todo trabalho de engajamento público. A plena consciência dos riscos que as intervenções da mídia podem gerar nas comunidades deve ser evidenciada em um planejamento cuidadoso, consultas e processos de trabalho geridos com sensibilidade.
Profissionais da mídia também devem buscar permissão e orientação das autoridades tradicionais, especialmente quando trabalham nos Territórios ou em locais sagrados, de acordo com as leis que proíbem o uso de fotografia e gravação de filmes. O termo Territórios refere-se a áreas onde comunidades indígenas reconhecidas têm títulos legais de propriedade e onde essas comunidades gozam de autonomia e autodeterminação, bem como do direito de usar a terra e proteger a floresta.
Esforce-se para criar trabalhos que reconheçam Territórios Indígenas ou lutas pela terra, bem como práticas que conectem memória e imaginação com as demandas por terras soberanas.
“Não usarei imagens que os violem ou que sejam usadas por outras pessoas ou instituições que violem sua imagem porque [o povo Yuqui] tem uma longa história de publicações, notícias, em que são mostrados apenas mendigando ou dormindo nas ruas ou mal vestidos."
- Sara Aliaga Ticona, fotojornalista, povo Aymara, Bolívia
“Qualquer coisa que você disser pode ser usada contra você. Por isso temos que ter muito cuidado ao mostrar as comunidades indígenas, porque uma foto, um detalhe pode significar uma linha entre a valorização e a transformação do imaginário coletivo ou a perpetuação da discriminação e da linguagem colonialista em relação a essas comunidades ... Porque, antes de mais nada, elas são pessoas, não são tópicos. Portanto, defenda sempre a humanidade das pessoas, a dignidade das pessoas”.
Sara Aliaga Ticona, fotojornalista, Povo Aymara, Bolívia
Carmen Isategua Guaguasubera, de 35 anos, e sua sobrinha, Dina Ie Guaguasubera, de 27 anos, comentaram várias vezes sobre a complexidade de se incorporar à sociedade urbana. Dina conta que as mulheres Yuqui, às vezes, sofrem discriminação quando vão à cidade de Chimoré. “Falam mal da gente, falam que os Yuqui são sujos, os Yuqui são preguiçosos … Quando você tá sentado aí comendo, eles perguntam: Por que comem na rua … por que não comem à mesa? … Mas as pessoas trabalham fora. E elas comem, não têm casa, trabalham para ganhar a vida”.
“Sinto que estamos tentando encontrar um equilíbrio entre as fotos que são poderosas na forma como fazem perguntas diferentes ao público, em vez de dar respostas pré-estabelecidas.”
Laura Beltrán Villamizar, Editora de Fotografia, Revista Atmos
Capítulos do relatório ligados a este princípio (conteúdo em inglês)
Quais são os riscos e desafios de produzir imagens climáticas nos Territórios Indígenas?
Indigenização: um termo expandido
Histórias de urgência e apelo
Territórios quilombolas e proteção florestal
Fotografia de floresta e criadores de imagens indígenas
Indigeneidade online
Mídia latino-americana: um panorama neocolonial?
Representação de afrodescendentes e negros na mídia latino-americana